O transporte coletivo de Londrina já foi alvo de inúmeras greves dos trabalhadores do setor e de protestos de estudantes da UEL (Universidade Estadual de Londrina), estudantes secundaristas e usuários em geral. Em meados do segundo semestre de 1989, estudantes iniciaram um movimento de “pula catraca”, como forma de criticar o preço da tarifa de ônibus.
Essa prática tomou corpo ao longo de dias, culminando com a organização de protestos no Terminal Urbano, reunindo estudantes e trabalhadores. A PM (Polícia Militar) também estava lá, já acostumada a reprimir mobilizações desse tipo, que à época eram comuns, como as Greves Gerais convocadas pela CUT (Central Única dos Trabalhadores), greves de bancários, construção civil e de outros segmentos, todos tratados com as técnicas herdadas de Ditadura.
No primeiro dia, a manifestação ocorreu normalmente, registrando apenas um ou outro empurrão. No segundo dia do protesto, o movimento pela redução da tarifa de ônibus tomou corpo. Antes mesmo de começar o confronto entre a PM e os manifestantes, que se tornaria numa batalha campal, um dos comandantes da operação militar comentou com seu colega: “isso é coisa do Joaquim e do Ceará…”. Foi pura estigma. Os dois dirigentes bancários se encontravam naquele dia em Curitiba, cumprindo uma agenda sindical.
Ceará (Geraldo Fausto dos Santos), ex-presidente do Sindicato dos Bancários de Londrina, lembra que ao retornar da capital, durante aquela noite, chegou a ser detido por policiais quando procurava por um sobrinho nas imediações. Um pouco antes, por volta das 20h00, o Terminal Urbano foi depredado e incediado, a Avenida Leste-oeste foi palco de uma batalha, com pedras, balas de borracha e até bombas de gás lacrimogêneo, deixando um saldo de várias pessoas presas e algumas feridas. “Eles me levaram para o Detran, alegando que eu estava praticando direção perigosa. Como não tinham prova nenhuma disso e nem mesmo da minha participação no protesto, me liberaram depois”, recorda Ceará.
Para ele, os nervos dos manifestantes foram acirrados naquela noite de confrontos em frente ao Terminal de ônibus em função da forma como a PM agiu. “Ninguém foi lá para tumultuar. Naquela época, os policiais jogavam os camburões pra cima da gente para intimidar, como sempre ocorria nas greves dos bancários e demais mobilizações realizadas na cidade”, explica Ceará, acrescentando que seu nome e do companheiro Joaquim eram constantemente ligados a fatos desse tipo, mesmo se ambos não estivessem envolvidos com eles ou se encontrassem fora da cidade, como foi na noite do quebra-quebra do Terminal.